Eu me encontrei numa caverna. Eu estava sentada de olhos fechados – Talvez meditando. Era estranho ver “Eu” na minha frente e sabendo que não era um espelho,
Mesmo de olhos fechados ela, ou melhor, eu, chorava. As gotas banhavam a grande pedra onde minha outra eu meditava.
Eu nunca parei assim para pensar no meu passado, eu sentia dor só em começar. E quando eu respirei fundo encontrei meus olhos vidrados em mim.
-Você não cansa de me julgar – Disse meu reflexo
Eu não sabia exatamente do que ela falava. Olhei para os lados, para trás e não via ninguém, éramos somente eu e eu, juntas naquela caverna escura e gélida.
-Você não cansa de me julgar – ela repetiu
-Não entendo – Sussurrei dando alguns passos na sua direção, eu queria tocá-la para saber se era real.
-Você não cansa de me julgar! – Ela gracejou
-É você que estar me julgando – Eu falei, minhas mão começavam a ficar mais frias
-É isso que você faz comigo – ela contestou
-Mas você sou eu – Segurei-me na parede da caverna
-Nós somos a mesma pessoa – Ela disse delicadamente – Mas ainda assim em julgas
Por que ela insistia nisso?
-Explica – Saltei a palavra
-Você quer uma perfeição que não existe – Ela disse entre soluços – Você não aceita erros e fracassos.
-Eu não quero ser perfeita – Falei.
-Procura fazer o melhor em todos os detalhes – Ela disse revirando os olhos – Você erra e me machuca com isso, me culpa! – Ela voltou a chorar – Errar é normal aprendemos com os nossos erros e decepções, mas ainda assim você me machuca com seus julgamentos.
-Eu só quero melhorar – Sussurrei – E eu ouço todos os dias os que me julgam
Eu começava a sentir uma dor no coração
-Você o ama? – Ela indagou rapidamente
-Quem? – eu respondi com uma pergunta, eu não imaginava ter uma conversa assim com alguém
-O garoto que você disse que odiava – Ela falou – O da sua escola
Ela trocou numa ferida que eu realmente não queria abrir. Sente-me um pouco grogue. Parecia que eu havia ingerido álcool.
-Não muito – Sussurrei de olhos fechados buscando ar
-Eu sou você e sei que mentes para mim – Ela sorriu – Por que se escondes entre mentiras e cobra tanto de si mesma?
-Medo! – Berrei instantaneamente – Eu não quero me machucar mais, você sabe o quanto dói lembrar-me dele, é como uma adaga no coração
-Por quê? – Ela inquiriu – Por que um dia você o odiou e depois se apaixonou? Por que ele feriu seu orgulho? Por ele ser indeciso?
Parei para pensar... O que ela havia dito tinha um pouco de verdade.
-Assuma que gosta dele – Ela disse quase implorando
-De novo! – Exclamei – Eu fui atrás e disse que gostava dele, ele não soube me dar um fora decente, com pena de mim – Comecei a chorar – Sou digna de pena
Meu reflexo olhou em meus olhos e deu uma gargalhada irônica
-Você não cansa de me julgar – Ela proferiu – Esse orgulho que te sustenta é o que te corrói
-É meu sustento – falei
-Sua perdição – Ela protestou – Sabe lutar?
-Mas do que já fiz – Não era uma pergunta, mas ela respondeu
-O que você fez? Mostrou o que sentia e chorou como uma criança quando não lhe dão um brinquedo – Ela atirou em mim aquela flecha de palavras – Você não lutou para mostrar que era madura mais que o suficiente.
-Eu procurei não chorar na frente de ninguém – Falei
Ela balançou a cabeça em negativa...
-Você não chorou, por que não queria afogar mais o seu orgulho – Ela proferiu – A verdade dói?
-A dúvida mata a alma de um ser humano – Contestei – Ele não soube se expressar ao tentar... – Oscilei, mas continuei – Tentar dar-me um fora. Como disse o amigo dele “Ele possui sérios problemas para me dispensar”
-Eu não sei o que ele pensa – Ela falou – Se eu soubesse você também saberia, ele nos deixa confusa e isso nos irrita, mas você, ou melhor, nós temos que lutar...
-Estou saturada desse conto de terror – Falei
Ela riu
-Enquanto ele não falar “Chega” ou você deixar de amá-lo – Ela respirou – A batalha continua, não desista, segure o ar
-Mesmo que ele seja falso? – Inquiri
-Artificial ou não, você só verá o resultado se provar – Ela fechou os olhos novamente –Ele te deixa diferente, tão diferente que eu estranho
-Diferente? – perguntei
-Acostumada a se esconder, você fica bem espontânea ao lado dele – Ela disse
-Eu acho que me prendo mais – Sussurrei
-Você sorri e fala o que pensa – Ela continuou – É hilária a cor dos teus olhos e o tom da sua voz perto dele, são mais vivas
-Eu não queria – Proferi com tristeza
-Se escolhêssemos quem amar, o amor não teria graça – Ela filosofou – Agora se lembre de agir mais e julgar menos
-Não vou continuar a segui-lo – Falei
-Procure não errar e se errar aprenda com seus erros – Ela voltou a sorrir de olhos fechados – O que você acha sobre ele?
-Ele vale à pena! – Falei fechando meus lhos e sorrindo
Quando abri novamente meus olhos eu estava no meu quarto. Eu havia desabafado, embora não tenha curado, mas estou mais aliviada talvez eu escolha a luta...
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